sexta-feira, novembro 28, 2008

Trajetória da imprevidência

A noite de 22 de novembro de 2008 foi o início do pesadelo para milhares de catarinenses. A chuva foi seguida de enchente, desbarrancamentos, destruição e morte. A calamidade foi anunciada como um ocaso incontrolável. O evento climático imprevisível. Contudo, é difícil ficar indiferente, ou sem pensar que o pior poderia ter sido evitado.
As Áreas de Preservação Permanente (APP) criadas pela Lei nº 4.771 em 1965 definiram as matas ciliares com 5 metros na margem dos rios, e incluem ainda a preservação de encostas íngremes e topos de morros. Depois da fatídica enchente de 1983, e da necessidade de proteger a biodiversidade, o Código Florestal foi revisto, e as Matas ciliares passaram a 30 metros no mínimo. Mas onde o Rio Itajaí-Açu deveria ter mata ciliar com 100 metros de largura, a lei municipal de Blumenau é mais branda: 33 metros a 45 metros. Em Treze Tílias, o Plano Diretor previu apenas 3 a 5 metros. As peculiaridades ambientais de Santa Catarina justificariam uma legislação própria. Por isto, o Projeto de Lei Federal 3517/2008, do deputado José Carlos Vieira (DEM-SC), elimina a exigência de observar os limites do Código Florestal, autorizando os Municípios a flexibilizar os limites técnicos. O Projeto de Lei Estadual 238/2008, do Governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), institui o Código do Meio Ambiente de Santa Catarina, vai além, e propõem matas ciliares de 5m de largura - um disparate técnico e jurídico. Em outra frente, a CPI das ONGs, do Senador Colombo (DEM-SC) instigou caçadores de eco-chatos, principalmente aqueles que agem no CONAMA e no Ministério do Meio Ambiente.
Enquanto isto, a tríplice aliança impediu a criação de unidades de conservação federal, não conseguiu realizar o inventário florestal do Estado, nem promoveu pesquisas ambientais que dessem luz às propostas de mudança da Lei. E engavetou o projeto do ICMS Ecológico, do deputado Francisco de Assis (PT), que beneficiaria municípios que preservam mais o ambiente. Em Florianópolis autorizações ilegais alvo da Operação Moeda Verde. E Santa Catarina liderando o desmatamento no Brasil em 2007.
Vieram enchentes, arrasaram cidades, áreas rural, ceifaram vidas, e tornaram discutível a governabilidade ambiental local. Mas são uma triste oportunidade de tomarmos coragem para agir: fortalecer o controle social na gestão ambiental, valorizar profissões especializadas em meio ambiente, investir nos órgãos públicos e pagar por serviços ambientais. Sem as Áreas de Preservação Permanente, mas principalmente, de uma política ambiental séria, a força da natureza será sempre um castigo aos incautos.

domingo, novembro 09, 2008

Extensão Florestal em tempos de crise


Em "A silvicultura também se encontra refém da crise internacional", Nelson Barbosa Leite ressalta que os efeitos da crise podem se tornar ainda mais dramáticos para alguns segmentos da silvicultura, como é o caso do fomento e da terceirização.
São nas crises que a natureza se revela? qual o papel da extensão florestal?

Todo bom escoteiro sabe que a corda rompe na ponta mais fraca. E são em nós onde fica ainda mais fácil da corda estourar, onde a corda dobra e quebra.
Nesta corda florestal, estes nós são justamente as relações buscadas com a terceirização, alguns são nós cegos, difíceis de desatar, outros são nós górdios, difíceis até de entender. Mas é possível observar que:

E nós-de-escota, para unir duas cordas de bitolas diferentes, parece o Fomento Florestal, também chamado de terceirização da produção. É mais do que ampliar a produção de matéria prima, pois a Agricultura Familiar sabe dos riscos da integração com a Indústria, o fumo, frango e porco estão aí para nos lembrar. Temos bons exemplos de contratos com preço antecipado para a madeira, portifólio de espécies de uso múltiplo. Sistemas agroflorestais poderiam fazer toda a diferença.


Sistema Agroflorestal com pinus, erva-mate e grãos


O nó-de-moringa, com muitas votas e encruzilhadas, lembra a Extensão Florestal, esta é mais que fazer famílias agricultoras obedecerem o Código Florestal. As vezes, a extensão, e a educação ambiental, visa fazer com que pequenos produtores façam aquilo que as próprias empresas nem sempre necessitam, pois estas tem o privilégio de firmar um acordo com o Ministério Público. Enquanto os pequenos são embromados nos órgãos públicos sem conseguir autorizações para um simples corte eventual de árvores, pois corte de essência nativa, não interessa às empresas, e provavelmente também não pelas ONGs envolvidas.

Lais-de-guia é o laço para içar uma pessoa. Este nó salva a gente, daqueles feitos para não apertar a barriga, nem pensamos se um dia vamos desatar, quando é preciso ficar pendurado e se salvar. Seria este o caso dos serviços florestais terceirizados? Neste caso, extensão florestal inclui a capacitação, formação e articulação de empresas e cooperativas de serviço, ou estas gentes e instituições não passarão de números em planilhas?

Se as empresas precisam ir além, provavelmente vão precisar investir em processos de extensão florestal que gerem nós largos e com alças, bons de fazer, fáceis de desatar.

Talvez por isto exista o termo: laços de confiança, eis a questão?

domingo, outubro 26, 2008

Bicycle


Bicycle
Upload feito originalmente por Will Brasil

Uma grande angular urgente!

Lançamento:
Manual Agroflorestal para a Mata Atlântica

28 de outubro de 2008 (terça-feira), às 19h30, em Brasília-DF
Local: Auditório da Pontifícia Obras Missionárias, SGAN 905 – Conjunto B. Brasília.


Este Manual Agroflorestal foi elaborado a partir dos resultados de diversos trabalhos coletivos que se estabelecem entre as instituições sócio-ambientais, atuantes neste bioma, com foco no desenvolvimento sustentável, na agricultura familiar e nos princípios da agroecologia. Contou com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Projeto “Capacitação participativa de agricultores familiares e formação de agentes de desenvolvimento agroflorestal da Mata Atlântica”.

Coube a REBRAF - Instituto Rede Brasileira Agroflorestal, em parceria com a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) a sistematização e organização de trabalhos acadêmicos, compilação de experiências concretas desenvolvidas por agricultores e agricultoras e a documentação da troca de experiências entre os técnicos e colaboradores envolvidos na elaboração do conteúdo que agora apresentamos. Um trabalho que resulta do envolvimento de diversas pessoas, representadas por mais de 20 instituições espalhadas pela Mata Atlântica desde o Ceará até o Rio Grande do Sul.

Este Manual Agroflorestal pretende, como objetivo principal, convergir inicialmente os olhares para os trabalhos e as diversas experiências que já catalogam seus mais preciosos acertos e seus, não menos importantes, erros. Assim, busca resgatar nos homens e mulheres que estão diretamente envolvidos com a terra e seu uso, os conhecimentos tradicionais mais propícios ao seu modo de vida e trabalho e ampliar sua capacidade de entender os Sistemas Agroflorestais, inclusive por meio de novos aprendizados e tecnologias.

O texto é composto por 04 capítulos. O primeiro capítulo foi organizado por Jean Dubois, teve por objetivo introduzir conceitos sobre SAFs e suas práticas, caracterizando as principais definições sobre o assunto no contexto da Agroecologia. O segundo capítulo foi elaborado por Peter May, onde se objetiva aprofundar os conhecimentos e informar sobre a variedade de fontes de bens e serviços gerados pelos SAFs, no intuito de fortalecer argumentos para sua adoção e disseminação entre usuários, técnicos e financiadores. O Capítulo 3, organizado por Guilherme Floriani e Jorge Vivan, enfatiza o monitoramento participativo de SAFs como parte inseparável de estratégias de aprendizado progressivo e compartilhado entre atores, sejam eles institucionais ou privados. Esse texto contou com a colaboração de Valéria da Vinha, ao apresentar diferentes possibilidades de dinâmicas no uso de diagnósticos participativos para avançar na identificação de erros e aprendizados. Por fim, no Capítulo 4, baseado no texto de Armin Deitenbach, é apresentada uma abordagem do estado da arte das principais políticas públicas voltadas a quem trabalha, ou deseja trabalhar com SAFs.

O lançamento do livro acontecerá em Brasília-DF, durante a realização do “Encontro de Socialização em Sistemas Agroflorestais” entre os dias 28 e 29 de outubro de 2008, organizado pelo MDA-Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Local: Auditório da Pontifícia Obras Missionárias, SGAN 905 – Conjunto B. Brasília.


quinta-feira, outubro 16, 2008

Projeto Kayuvá receberá recursos do SEBRAE











Projeto Kayuvá é aprovado na chamada pública 04/2008 promovida pelo SEBRAE Nacional para Apoio a Projetos de Comércio Justo e Solidário.

O projeto "Kayuvá: Valorização do Pinhão na Agricultura Familiar da Serra Catarinense" tem como proponente o Instituto Pereté para o Desenvolvimento (iPereté), e foi um dos três selecionados em Santa Catarina dentre centenas de propostas de todo o país.

A proposta é o resultado de um intenso trabalho iniciado pelo Ipereté em 2004 e que se materializa agora com a parceria do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), da Associação de produtores de Erva-mate e Pinhão de Urupema e Região (APEMPUR), e da Associação de Produtores Rurais de Casa de Pedra (APROC).

Nosso primeiro grande passo com a conquista do apoio do CNPQ através do edital 36/2007. Neste ano, através do Departamento de Solos do CAV somou-se uma modesta ajuda da FAPESC, mas diversas atribulações burocráticas impediram o início efetivo das atividades.













Desta forma, o apoio do SEBRAE constitui um passo fundamental. Além de dobrar o montante de recursos disponíveis, a inclusão do SEBRAE como parceiro amplia e dá maior estabilidade institucional e financeira para a realização das atividades e alcance dos objetivos propostos.

Provam-se mais uma vez que oportunidades devem ser perseguidas. Agora temos pela frente o desafio de utilizar estes recursos para fazer do pinhão um meio efetivo de geração de renda e uso sustentável dos recursos naturais da região.

Esta vitória é dividida entre todos os que fazem parte desta empreitada, cada um a seu modo e medida, mas sendo sempre uma contribuição importante.