O Diretor de Avatar, James Cameron, não deve conhecer a região de
Anitápolis, em Santa Catarina, onde se prevê a implantação de um
complexo de mineração para fabricar fertilizantes. Em Avatar, humanos do
futuro vão ao planeta Pandora explorar um minério e entram em conflito
com a civilização dos Na’vi que vive em harmonia com a natureza no local
da jazida. “Uma ampla metáfora sobre como tratamos a natureza”, Cameron
não precisava ter dito. Os Na’vi viviam na Árvore da Vida, em cima da
jazida. Em Anitápolis, é a ONG Montanha Viva quem enfrenta a mineradora.
A superprodução recebeu 3 Oscars e
alcançou a maior bilheteria da história, em parte por saciar a tomada de
consciência ambiental que surge em todo o mundo, aflita pelos riscos da
apropriação dos recursos naturais quando corporações multinacionais,
tecnologias insustentáveis e especulação financeira podem culminar em
destruição de ambientes e povos. Mas Avatar é uma versão parcial dos
conflitos ambientais e sociais que colocam a gestão ambiental entre a
cruz e a espada.
O filme Guerra ao Terror foi mais premiado no Oscar. Trata o drama
dos militares americanos no Iraque e Afeganistão, onde não existiria
aquilo que Avatar denuncia, o custo da mineração, no caso, do petróleo.
Seguiu todas a regras tradicionais de produção cinematográfica e com
menor custo, ganhou de Avatar. Se o projeto de Anitápolis fosse avaliado
como este filme, a mineração já teria iniciado. Mas o Licenciamento
Ambiental nunca poderá deslizar num rito burocrático descontextualizado,
cartorial.
Pois a decisão sobre a viabilidade de um empreendimento com elevados
impactos ambientais e econômicos não se resolve com efeitos especiais de
filmes de ficção. Ocorre quando planos estratégicos de desenvolvimento
se materializam em projetos, um instante que reclama investimentos
verdadeiros em gestão pública, primor tecnológico e avanço científico.
Publicado no EcoDebate, 16/03/2010.
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