terça-feira, março 14, 2006

A paixão em debulhar a pinha

A copa da araucária voltada para o céu reverencia majestosamente o Criador. Em meio a mais de 350 espécies vegetais de imensa importância biológica, constitui o ecossistema conhecido por Floresta com Araucária, que integra o bioma da Mata Atlântica. A exploração inconseqüente e a supressão para outros usos do solo deixaram a rica floresta intensamente ameaçada. Mas o recente crescimento econômico com base na madeira fortalece novamente no povo serrano uma cultura florestal ancestral, de convívio com a araucária e campos nativos, de onde se resgatam conhecimentos e tradições fundamentais para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais, esta é a história do pinhão.
Mais de 300 mil visitantes vêm a Lages, em Santa Catarina, para a Festa Nacional do Pinhão para um reencontro com uma tradição que possui raízes na semente da araucária. É a maior festa popular do Brasil inspirada num produto florestal nativo da Mata Atlântica que mostra além de madeira, existe uma grande admiração por toda a riqueza desta floresta e pela cultura do povo que a compartilha. A produção do pinhão é uma tradição do povo serrano, envolve a família, a comunidade rural. Um fruto da coragem, força e paixão. Sem depender do corte da araucária e do uso de agrotóxicos é considerado um produto ecológico e natural. Mas o delicioso alimento é também a semente de uma espécie ameaçada. Sua colheita precisa ser feita sem prejudicar a regeneração da araucária e não comprometer ainda mais uma floresta tão ameaçada.
Para saber como isto é possível, o Instituto iPeretê para o Desenvolvimento - Organização não governamental sediada em Lages – desenvolve o projeto “Debulhando Pinha, Semeando Pinhão”, com estudos participativos que avaliam a sustentabilidade da produção ao comércio do pinhão por aspectos ecológicos, sócio-econômicos e culturais, que visam orientar o aumento da produção e a melhor remuneração do pinhão, elevando o valor da floresta. É trabalho e renda que estimula a conservação da araucária, pois fortalecem uma vocação regional através do consumo consciente de produtos socialmente e ambientalmente sustentáveis.
Harmonizar as atividades humanas na natureza significa apertar os laços sociais que reconhecem e valorizam as melhores práticas de manejo florestal. Premiando quem constrói um futuro comum sustentável. Pois ‘conservamos só aquilo que amamos, amamos só o que entendemos, e entendemos apenas o que somos ensinados’ a amar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Guilherme,
Sabemos de todos os problemas que a Mata com Araucária vem sofrendo. Desde ameaça de corte, seu efetivo corte e tembém o "ódio" plantado na maioria dos proprietários rurais, pela atual legislação, que não sabe se está conservando ou condenando. A idéia de a Araucária estar em processo de extinção não é assimiliada pela maioria das pessoas, que a vê por todos os lados. Mas sem dar mais voltas (haha) por uns dois ou três anos o pinhão não teve grande produção como se teve nos anos anteriores, o que é relativamente natural. Neste ano, como pode-se ver em qualquer região, as árvores estão "carregadas" de pinhas. Este fato não pode contribuir com a DESvalorização da semente símbolo da região? Pois, devida à maior oferta, o preço tenderá a reduzir, trazendo ao produtor e ao comerciante mais indignação... Então, qual seria a solução mais viável para conservar e valorizar a referida espécie? Se não me engane, acho que é o prof. Ide, do Cav, que estava trabalhando com a tal cachaça de pinhão. Isto não seria uma alternativa? Trabalhar com outros derivados da Araucária, e que rendesse lucro ao produtor e valorizasse a conservação e o plantio da árvore?
Por Enquanto é isso.
Abraços

Robson "Tio Chico"