A dimensão da usina hidroelétrica da Enercan em Campos Novos impressiona. Primeiro ficamos pequenos diante do exército de pessoas e máquinas que organizam como um formigueiro o gigantesco amontoado de rochas, concreto e ferro. Alagado um pedaço do mundo, nos sentimos gigantes, maravilhados pela grandiosidade humana, que transforma o ambiente com inteligência.
O sucesso da hidroeletricidade brasileira é fruto da objetividade científica, presteza tecnológica, disciplina e esmero no trabalho. Por isto a surpresa internacional com o vazamento da Usina em Campos Novos. Mesmo diante dos avisos de que providências técnicas estavam sendo tomadas, as águas encharcaram a mente de moradores e funcionários, tomados de pânico e medo.
Controvérsias sobre o que ocorria alimentava o horror. Uma versão afirma a decisão de esvaziar o lago para estancar o vazavamento. Para observadores externos, no entanto, não houve decisão técnica, o problema avançou até o esvaziamento total do lago. As águas perdidas foram aproveitadas à jusante, pela Barragem de Itá. Ou teriam, antes disso, causado mais danos no que sobrou no rio? A torrente levou pedras, terra, árvores e tudo mais abaixo. Os entulhos acumulados, diminuem a vida útil de Itá?
A usina teve metade do custo financiada pelo Estado Brasileiro sob os auspícios do Governo Estadual, foi uma aposta pública, a eletricidade é para todos, mas feita para dar lucro. Os custos destes erros voltarão na tarifa?
O medo nasce do histórico de industrialização irresponsável e imprevidente, que concentrou renda e compartilhou danos ambientais e conflitos sociais. O deslumbramento por Usinas Hidroelétricas começou na BAESA, fruto da desinformação e omissão sobre impactos ambientais e sociais. Não é a toa que a população local receie que o pior não tenha sido revelado.
Desta vez pode ter sido apenas um susto, mas a tradição de omitir laudos e se esquivar de responsabilidades esvazia um lago de dúvidas, e transborda um rio com incertezas.