sexta-feira, novembro 24, 2006

Con.Ciência Florestal

As florestas catarinenses e sua engenharia, são fundamentais pelos bens, produtos e serviços ambientais oferecidos pelos plantios homogêneos e pelas florestas naturais manejadas de forma sustentável.

Santa Catarina possui 37% de matas nativas e 5% de reflorestamentos, cerca de 10% da área reflorestada do Brasil. Em 2004 Santa Catarina foi o maior produtor de móveis e aberturas (produzindo quase 43% do total), o segundo em madeira serrada (18,7%), e o terceiro em papel (13,82%). Em 2005 mais de US$1,16 bi foram exportados, cerca de 45% do agronegócio, do qual dependem 86% das divisas do estado. Em algumas regiões, mais de 50% da movimentação econômica depende da madeira.

A competitividade florestal catarinense é reconhecida mundialmente, mas todo este potencial pode ser desperdiçado sem investimentos em ensino, extensão rural e pesquisa técnico-científica. As exportações agrícolas aumentaram 22% entre 2001 e 2005 no Brasil, enquanto o crescimento em Santa Catarina foi apenas de 15%. No setor florestal foi o contrário, crescemos 26% contra 24% na média nacional. Mas até quando isso será possível? A que custo social e ambiental este resultado é alcançado?

Temos 4 cursos de Engenharia Florestal no Estado, um deles na UDESC à espera de apoio para se consolidar. Ademais, faltam linhas de financiamento dirigidas para pesquisa florestal. A Epagri possui um quadro exíguo para realizar extensão e pesquisa florestal, com apenas 3 engenheiros florestais, e no último concurso público, em meio a 369 vagas, apenas uma foi dedicada a esta categoria.

Somente com profissionais gabaritados teremos capacidade produtiva, segurança para os produtores, e criação de alternativas, em sistemas agroflorestais, ao operar créditos de carbono, e preservar mananciais, que fazem da atividade florestal um dos pilares do desenvolvimento sustentável.

quinta-feira, novembro 16, 2006

A experiência de ser vegetariano

Quem não é vegetariano não sabe como é difícil. Além de se desdobrar na escolha de alimentos e aprender a prepará-los de forma diferente, tem ainda de vencer o preconceito.
Se você já tentou ser vegetariano entenderá o que dizemos, pois já deve ter visto algo assim.
“– Moça, tem pastel sem carne?”
“–Sim, de frango com catupiri” (Mas frango não é carne?). Ou então:
“– Lembramos de você, olha, tem alface e tomate no almoço..”!!
Ser vegetariano é mais do que não comer carne. Não comer carne para ter mais saúde é um motivo pelo nosso próprio bem, a carne possui radicais livres, gorduras, e os animais estão contaminados ou o abate e o processamento não é confiável. E até formas inusitadas, como não comer carne vermelha, só branca, apenas frango e peixe. Outros querem o bem do animal, por compaixão, buscam eliminar o sofrimento imposto pelos sistemas de criação e abate.
Aumenta também a consciência de consumidores sobre os impactos da produção animal, que estimula o desmatamento na Amazônia ou a poluição de águas no Oeste de Santa Catarina, ademais, na mesma área, a agricultura produz 20 vezes mais alimentos que a pecuária.
Por outro lado, o vegetarianismo busca a liberdade alimentar, e não uma nova dependência, tão rígida como exigir bife todos os dias. Atualmente, a carne e demais produtos animais é totalmente substituível.
Infelizmente, muitos que não querem, ou não conseguem abandonar os velhos hábitos alimentares, passam a policiar os vegetarianos para que nunca mais comam carne, cegos ao benefício da redução do consumo de carne. Poderia ser o contrário, afinal, sobra mais churrasco, mas obriga na verdade a diversificação de pratos, é preciso se desdobrar para a refeição conseguir agregar todos à mesa.
Independente de como for, o vegetarianismo significa refletir sobre a lógica de produção e consumo de produtos derivados de animais, e principalmente, iniciar um processo de aprendizado pessoal, reconhecendo o que faz para si próprio e o efeito de nossas ações em relação aos outros.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Se animais votassem?

Passado o dia do Veternário, ficamos ainda mais comovidos e consternados ao ver as ruas repletas de animais abandonados ou maltratados, famintos, doentes. O abandono de cães em Lages é um problema de saúde pública e cultural. Diferente de outros animais de criação, cães e gatos são “extraviados”. Não se quer matar, apenas soltá-lo à própria sorte, na esperança que encontre quem o queira. Mas poucos pegam animais de rua, torcendo para os animais perdidos voltarem ao local onde vivem. Outros, tão magros e sem pelos repugnam ao olhar.
Por outro lado, o extermínio leva ao sofrimento animal ou será uma atividade onerosa, que isoladamente, não atinge a raiz do problema, dando a sensação de que não faz mal abandonar animais. O Centro de Zoonozes já recebeu os recursos do Governo Federal e pode assumir uma função mais ampla e decisiva se for apoiado.
Pois é preciso mais do que reuni-los em algum lugar. Sem recursos, os abrigos são confinamentos barulhentos, sem liberdade e em condições insalubres, onde alastram-se doenças e dor.
Diante deste quadro, a realização da feira de doação de animais oferece uma solução definitiva. Pois o melhor lugar de um cão é um lar. Junto de uma família encontrará abrigo, proteção, cuidados, carinho e amizade, aprendera servir e será útil. Diante do enorme problema, são poucos doações ainda realizadas, mas para estes, a feira fez toda a diferença. Além disso, o custo da doação é baixo e não chega à metade do custo de uma eutanásia; Os animais são vacinados e castrados. Tem um caráter educativo, com a valorização da amorozidade e cuidado aos animais.
Aliado a isso, é preciso diagnosticar a situação dos animais de rua em Lages para melhor desenvolver: campanhas de castração, com apoio a rede de clínicas já existentes; de valorização de animais sem raça definida, fáceis de manter, muito espertos e resistentes; divulgação de práticas de criação mais baratas e fácil aplicação, gerando mais saúde e melhor comportamento dos animais. Sem crias inesperadas e mais sucesso na criação, damos um passo fundamental para o dilema de animais nas ruas ou sofrendo maus tratos tenha fim.

segunda-feira, julho 03, 2006

Enercan: um lago de dúvidas enche um rio de medo e incertezas


A dimensão da usina hidroelétrica da Enercan em Campos Novos impressiona. Primeiro ficamos pequenos diante do exército de pessoas e máquinas que organizam como um formigueiro o gigantesco amontoado de rochas, concreto e ferro. Alagado um pedaço do mundo, nos sentimos gigantes, maravilhados pela grandiosidade humana, que transforma o ambiente com inteligência. 

O sucesso da hidroeletricidade brasileira é fruto da objetividade científica, presteza tecnológica, disciplina e esmero no trabalho. Por isto a surpresa internacional com o vazamento da Usina em Campos Novos. Mesmo diante dos avisos de que providências técnicas estavam sendo tomadas, as águas encharcaram a mente de moradores e funcionários, tomados de pânico e medo.

Controvérsias sobre o que ocorria alimentava o horror. Uma versão afirma a decisão de esvaziar o lago para estancar o vazavamento. Para observadores externos, no entanto, não houve decisão técnica, o problema avançou até o esvaziamento total do lago. As águas perdidas foram aproveitadas à jusante, pela Barragem de Itá. Ou teriam, antes disso, causado mais danos no que sobrou no rio? A torrente levou pedras, terra, árvores e tudo mais abaixo. Os entulhos acumulados, diminuem a vida útil de Itá?

A usina teve metade do custo financiada pelo Estado Brasileiro sob os auspícios do Governo Estadual, foi uma aposta pública, a eletricidade é para todos, mas feita para dar lucro. Os custos destes erros voltarão na tarifa? 

O medo nasce do histórico de industrialização irresponsável e imprevidente, que concentrou renda e compartilhou danos ambientais e conflitos sociais. O deslumbramento por Usinas Hidroelétricas começou na BAESA, fruto da desinformação e omissão sobre impactos ambientais e sociais. Não é a toa que a população local receie que o pior não tenha sido revelado. 

Desta vez pode ter sido apenas um susto, mas a tradição de omitir laudos e se esquivar de responsabilidades esvazia um lago de dúvidas, e transborda um rio com incertezas.

sexta-feira, junho 23, 2006

Conservação e Uso Sustentável da Polinização

Os polinizadores são fundamentais para a produção agrícola e conservação da biodiversidade nos ecossistemas naturais. Em busca de néctar, os polinizadores carregam pólen e fecundam flores, permitindo a formação de sementes e frutos em dois terços (2/3) das plantas do mundo. Três quartos (3/4) das plantas cultivadas tem incremento de produtividade quando polinizadas, um beneficio econômico global estimado em US$ 117 bilhões por ano.
Exemplo típico da região é a maçã, onde a polinização aumenta a produtividade em até 75%. Os Polinizadores mais conhecidos são as abelhas, beija-flores e borboletas, mas também incluem grande número de aves, morcegos e até moscas.
Uma interação biológica fundamental, mas atualmente ameaçada pela negligência, desconhecimento ou incompreensão. O uso de agrotóxicos, o desmatamento, a introdução de plantas e animais exóticos e a fragmentação da paisagem, provocam o declínio dos polinizadores, ameaçando a biodiversidade e a sustentabilidade da agricultura.
Um esforço internacionalmente da FAO, apoiado pelo GEF, busca atenuar este problema através do aprimoramento cientifico e tecnológico, da extensão e, da articulação de políticas publicas. No Brasil estas ações ganham forma na Iniciativa Brasileira de Polinizadores (IBP), promovida pelo Governo Federal através do Ministério do Meio Ambiente.
Preocupados com o cenário socioambiental do Planalto Catarinense, o CAV-UDESC e o iPERETÉ – Instituto Pereté para o Desenvolvimento, promovem um diagnóstico sócio-ambiental, uma pesquisa-ação para alavancar com outras instituições a valorização do uso e a conservação de polinizadores nas estratégias de desenvolvimento, desde as pesquisas em agroecossistemas, exensão rural, educação ambiental e o licenciamento ambiental. Para isto, são identificadas participativamente as principais demandas regionais para pleitear recursos junto a IBP.
Que a polinização seja um exemplo de ajuda mutua para nos ajudar a estabelecer interações sociais positivas, aumentando a produção agrícola e a conservação ambiental da região.

terça-feira, março 14, 2006

A paixão em debulhar a pinha

A copa da araucária voltada para o céu reverencia majestosamente o Criador. Em meio a mais de 350 espécies vegetais de imensa importância biológica, constitui o ecossistema conhecido por Floresta com Araucária, que integra o bioma da Mata Atlântica. A exploração inconseqüente e a supressão para outros usos do solo deixaram a rica floresta intensamente ameaçada. Mas o recente crescimento econômico com base na madeira fortalece novamente no povo serrano uma cultura florestal ancestral, de convívio com a araucária e campos nativos, de onde se resgatam conhecimentos e tradições fundamentais para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais, esta é a história do pinhão.
Mais de 300 mil visitantes vêm a Lages, em Santa Catarina, para a Festa Nacional do Pinhão para um reencontro com uma tradição que possui raízes na semente da araucária. É a maior festa popular do Brasil inspirada num produto florestal nativo da Mata Atlântica que mostra além de madeira, existe uma grande admiração por toda a riqueza desta floresta e pela cultura do povo que a compartilha. A produção do pinhão é uma tradição do povo serrano, envolve a família, a comunidade rural. Um fruto da coragem, força e paixão. Sem depender do corte da araucária e do uso de agrotóxicos é considerado um produto ecológico e natural. Mas o delicioso alimento é também a semente de uma espécie ameaçada. Sua colheita precisa ser feita sem prejudicar a regeneração da araucária e não comprometer ainda mais uma floresta tão ameaçada.
Para saber como isto é possível, o Instituto iPeretê para o Desenvolvimento - Organização não governamental sediada em Lages – desenvolve o projeto “Debulhando Pinha, Semeando Pinhão”, com estudos participativos que avaliam a sustentabilidade da produção ao comércio do pinhão por aspectos ecológicos, sócio-econômicos e culturais, que visam orientar o aumento da produção e a melhor remuneração do pinhão, elevando o valor da floresta. É trabalho e renda que estimula a conservação da araucária, pois fortalecem uma vocação regional através do consumo consciente de produtos socialmente e ambientalmente sustentáveis.
Harmonizar as atividades humanas na natureza significa apertar os laços sociais que reconhecem e valorizam as melhores práticas de manejo florestal. Premiando quem constrói um futuro comum sustentável. Pois ‘conservamos só aquilo que amamos, amamos só o que entendemos, e entendemos apenas o que somos ensinados’ a amar.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A perda de Tradições

A perda de Tradições:
Abandono do passado num futuro em construção

O debate sobre a perda da tradi ção gauchesca e o advento do reflorestamento nasce com um novo conservadorismo ideológico: da proteção, conservação e solidariedade. Mas conservadores culturais e ecologistas podem clamar por uma sociedade e natureza que não existem mais. Atividades rurais mudaram junto com a sociedade. A expansão do capitalismo tem limites ambientais e da modernidade, associado com a democracia liberal, o imperativo econômico transforma florestas e campos em fontes de commodities que distanciam ricos e pobres.
Para Giddens, a globalização, a destradicionalização e a intensificação da reflexividade social são as causas das mudanças sociais e da natureza. A crise do conservadorismo e o fim de sociedades pouco reflexivas, com estilos de vida muito arraigados, forçam o reordenamento das condições da vida. Seleciona o que será preservado e reinventa a tradição.
A direita reconhecida pelo neoliberalismo não é conservadora, embora o diga, pois alimenta processos radicais de mudança com expansão incessante dos mercados. Paradoxalmente, busca vínculos de conservação da nação, religião e família, enquanto o individualismo liberal impera no mercado, e sua expansão por atacado é a principal desintegradora da vida familiar. Na contramão do desejo de preservar heranças do passado, perdemos o Estado do bem-estar social que pensamos possuir. A tradição não será defendida de forma tradicional, sua conservação não resiste com a preservação não reflexiva do passado.
A força de mercado e do agressivo individualismo neoliberal não possui fronteiras e assola a tradição em todos os lugares. No reflorestamento o galderio muda, mas continua um peão. Sem renda e terra para a livre emancipação continua a dormir nos pelegos do galpão. A tradição que não queremos é aquela da desigualdade e imobilidade social.
A tradição tradicional torna-se fundamentalista e incapaz de criar harmonia social. A sociedade mudou, mas o debate sobre sociedade e natureza descompassa na pior tradição: do tranco político que dança dois passos pra lá, dois passos pra cá, e não sai do lugar.

Guilherme Floriani
g_floriani@yahoo.com.br