terça-feira, maio 24, 2005

A paixão em debulhar a pinha e ver brotar o pinhão

A copa da araucária voltada para o céu reverencia majestosamente o Criador. Em meio a mais de 350 espécies vegetais de imensa importância biológica, constitui o ecossistema conhecido por Floresta com Araucária, que integra o bioma da Mata Atlântica.
Após exploração inconseqüente e a supressão para outros usos do solo deixaram a rica floresta intensamente ameaçada. Mas o recente crescimento econômico com base na madeira fortalece novamente no povo serrano uma cultura florestal ancestral, de convívio com a araucária e campos nativos, de onde se resgatam conhecimentos e tradições fundamentais para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais, esta é a história do pinhão.
Mais de 300 mil visitantes vêm a Lages, em Santa Catarina, para a Festa Nacional do Pinhão para um reencontro com uma tradição que possui raízes na semente da araucária. É a maior festa popular do Brasil inspirada num produto florestal nativo da Mata Atlântica que mostra além de madeira, existe uma grande admiração por toda a riqueza desta floresta e pela cultura do povo que a compartilha. A produção do pinhão é uma tradição do povo serrano, envolve a família, a comunidade rural. Um fruto da coragem, força e paixão. Sem depender do corte da araucária e do uso de agrotóxicos é considerado um produto ecológico e natural. Mas o delicioso alimento é também a semente. Sua colheita precisa ser feita sem prejudicar a regeneração da araucária e não comprometer ainda mais uma floresta tão ameaçada.
Para saber como isto é possível, o Instituto iPeretê para o Desenvolvimento - Organização não governamental sediada em Lages – desenvolve o projeto “Debulhando Pinha, Semeando Pinhão”, com estudos participativos que avaliam a sustentabilidade da produção ao comério do pinhão por aspectos ecológicos, sócio-econômicos e cuturais, que visam orientar o aumento da produção e a melhor remuneração do pinhão, elevando o valor da floresta. É trabalho e renda que estimula a conservação da araucária, pois fortalecem uma vocação regional através do consumo consciente de produtos de sistemas produtivos socialmente e ambientalmente sustentáveis.
Harmonizar as atividades humanas na natureza significa apertar os laços sociais que reconhecem e valorizam as melhores práticas de manejo florestal. Premiando quem constrói um futuro comum sustentável. Pois ‘conservamos só aquilo que amamos, amamos só o que entendemos, e entendemos apenas o que somos ensinados’ a amar.

quinta-feira, abril 21, 2005

Velhas novidades: Perspectiva Agrária em Debate

"...futuro repete o passado...tuas idéias não correspondem aos fatos...[mas] o tempo não para..." (Cazuza)

Falar de reforma agrária com desdém é negar a ciência mundial dos fatores que levaram ao desenvolvimento de países ricos como Estados Unidos e Japão. Comentários maldosos revelam sobretudo políticos e formadores de opinião que não tem cuidados autênticos com a população historicamente marginalizada, maltrapilha e faminta que extravasa na região. O fato é que a terra parada não produz riquezas, não gera desenvolvimento, e a reforma agrária é necessária, é viável, e só precisa do MST porque é negligenciada.

O que não se muda ao lutar contra a reforma agrária é o fato de estarmos na região do Estado de maior carência, capital social inerte e perspectivas humanas extremamente desiguais entre seus habitantes. Lages possui apenas 2% de seus habitantes no meio rural e embora seja o maior município e possua a sétima maior cidade, tem um vergonhoso índice de desenvolvimento humano. É um município que não produz nem o alimento que consome, mas poderia ser diferente. Os melhores índices de produtividade estão nas pequenas propriedades mas são baixíssimos nas extensas propriedades, que deixam de cumprir sua função social de produzir riquezas, empregos e alimentos, aguçando a violenta urbanização e intensifica os conflitos rurais. A região é rica, mas desigual e falsos argumentos pecam contra o senso técnico-científico agropecuário, econômico e sociológico, fazendo crer que comunicam-se com uma população ignóbil.

Tenta-se criar uma imagem que não representa mais a população: de ser contra os pobres terem dinheiro libertador ou acesso ao trabalho com autonomia e organização. No meio rural o espírito cooperativo é fundamental mas precisa ser semeado na região pelo MST pela simples carência de políticas públicas efetivas na distribuição da riqueza na região. A completa ausência de tentativas prévias neste sentido desprestigia ainda mais as forças políticas que agora foram mobilizadas para barrar as ações do Incra na Região, pois são contra a injeção de capital na região para ativar a economia com a estruturação material da liberdade social.

Este desvaneio político não faz bem a qualquer partido e prejudica fundamentalmente o povo, com bravatas de seus representantes, que criam uma imagem retrógrada e truculenta que não merece mais espaço. Fere as tentativas de modernização de partidos que buscam a renovação, fazendo naufragar junto com eles a oportunidade de termos lideranças serranas ligadas à modernidade e de qualquer sentimento de nobreza que vise buscar igualdade e dignidade.